
Brasília (28 de outubro a 1º de novembro de 2025) – Poucas semanas antes da COP30, o Brasil foi palco de outro importante encontro: a primeira Assembleia da América Latina e do Caribe, com duração de uma semana, organizada pelo Fórum Global de Paisagens. Mais de 30 líderes comunitários e profissionais da área de restauração se reuniram em Brasília, capital do Brasil, para discutir políticas ambientais e sociedades justas, com foco nas vozes dos povos indígenas e abraçando o sentimento latino-americano onipresente de “buen vivir” ou viver bem.
O que há de especial nas assembleias comunitárias e de ação do GLF é que elas não são conferências. Isso ficou claro em Brasília, onde apenas algumas sessões foram centradas em um palco e um palestrante, com a maioria dos eventos e atividades sendo conversas participativas de desenho e ideação ou painéis circulares onde todos são convidados a falar. A interconexão esteve no centro da assembleia, um espaço de uma semana para compartilhar desafios, sucessos e ideias para o futuro da restauração da terra.
Um desses momentos de compartilhamento circular ocorreu durante um painel intergeracional, no qual os jovens compartilharam suas novas visões e esperanças, enquanto os mais velhos fundamentaram a conversa lembrando que, antes do colonialismo, seu povo tinha raízes profundas de felicidade e sabedoria em toda a América Latina. Em um espaço tão aberto e acolhedor, surgiram muitas ideias, incluindo a necessidade do uso ético das novas tecnologias, a importância de investir na família – outro unificador emblemático em todo o continente – e continuar a abordar como as mulheres são desproporcionalmente afetadas pela crise climática, disseminando a conscientização em nível comunitário.
Daniela Daza, da GLFx San Rafael, na Colômbia, fez a seguinte pergunta: “Devemos nos perguntar: onde encontramos nossa força?”

Essa pergunta pairou no ar ao longo da semana, enquanto as pessoas imaginavam paisagens degradadas sendo restauradas e transformadas em espaços prósperos. Espaços com pequenas empresas descentralizadas, habitats restaurados onde a biodiversidade prospera e os povos indígenas podem cuidar legalmente de suas terras. Espaços de participação cidadã e gestão da terra liderada localmente ajudam a reduzir os impactos de desastres como incêndios e inundações. Espaços para apoiar alimentos e produtos locais e para impedir o greenwashing e, em vez disso, garantir dignidade e bem-estar em nível local.
Após dois dias repletos de atividades no escritório do Fórum Mundial da Vida Selvagem (WWF) em Brasília, todos passamos um dia no jardim botânico de Brasília. Lá, vários povos indígenas e representantes de comunidades tradicionais, como o povo quilombola, que fazem parte da Assembleia compartilharam suas realidades vividas (veja as fotos abaixo):




Os participantes então mapearam suas paisagens futuras ideais, abordando temas como família, segurança, economias regenerativas, soberania, governança horizontal e saúde holística.
***
Fique ligado para uma série de três partes sobre as visões futuras das paisagens africanas, asiáticas e latino-americanas, a ser publicada no ThinkLandscape no ano que vem!
Nenhuma Assembleia da GLF estaria completa sem, é claro, uma visita ao campo para ver de perto os trabalhos de restauração e conservação. No último dia da assembleia, dirigimos por uma hora pela savana do Cerrado, a savana com maior biodiversidade do mundo!
Passamos o dia na associação local APROSPERA, parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) – o maior movimento de reforma agrária da América Latina.
Vinicius Santos, da APROSPERA, nos conduziu por parte das terras que sua iniciativa vem restaurando, apontando as gramíneas nativas em comparação com as invasoras. Ele explicou a importância de quase 200 famílias trabalharem juntas para conservar mais de 2.000 hectares do Cerrado, ao mesmo tempo em que praticam a agricultura sustentável para ganhar seu sustento.
Emilene Santos de Paiva e Marie Luzinete Alves Santos compartilharam conosco alguns alimentos de origem local e explicaram a importância de coletar e preservar sementes e espécies nativas para preservar a biodiversidade alimentar, melhorar a saúde do solo e diversificar sua renda.
Também aprendemos sobre o programa de cestas comunitárias de agricultura sustentável (CSA) para conectar agricultores locais com compradores da cidade – uma situação em que todos ganham, pois as pessoas podem experimentar alimentos nativos e diversificados e os agricultores locais lucram diretamente.
No geral, foi uma semana poderosa, envolvente e transformadora, centrada no poder das comunidades e na tecelagem de redes de interconexão, sabedoria, liderança e enraizadas na resiliência, esperança e buen vivir.






Share your thoughts with us